O típico desenvolvimento de um aplicativo passa pela definição do que deve fazer, documentação dos requerimentos, desenvolvimento do software (longo), testes, aprovação e entrada em produção. A equipe de desenvolvimento com a sensação de ter cumprido bem seu trabalho.

E aí aparecem as mudanças. O usuário tem novo requerimento, os impostos mudaram, o cálculo tem que ser revisado, o mercado mudou, há novas maneiras de lidar com o processo de venda, a empresa resolveu lançar uma nova linha de produto, o processamento será diferente do atual. A equipe de desenvolvimento tem que correr para implementar as mudanças, atualizar o software, testar, conseguir aprovação, entrar em produção com nova versão. O software fica cada vez mais complicado, mais difícil de gerenciar. A mudança pode provocar situações complexas ou até desastrosas, como a recente grave pane mundial causada por uma mudança no software da Crowdstrike. A qualidade do software cai.

Minha recomendação: abandonar completamente o modelo de desenvolvimento pensado como uma solução definitiva para um aplicativo. Entender que as empresas mudam, o mercado muda, os regulamentos mudam. Pensar e desenvolver o software aplicativo como uma série de mudanças. Encarar a mudança como sendo o normal, e não como um acidente que vai perturbar um sistema bem definido.

É uma mudança de mentalidade, e de método de trabalho. Começar o desenvolvimento com uma versão o mais simples possível do aplicativo, uma versão elementar, reduzidíssima, básica. Validar esta versão protótipo com o usuário. Identificar o que falta e implementar cada funcionalidade progressivamente, com acompanhamento e aprovação do usuário. Fazer isso mantendo as melhores práticas de modularidade: aplicativo dividido em micro serviços independentes, programas compostos por módulos o mais independentes possível. O tempo todo pensando que tudo pode mudar, portanto cada parte do sistema deve ter uma função de preferência única, e definição clara.

Importante documentar também continuamente. Manter um desenho completo do sistema com todas partes e interações entre elas. Tem que haver um arquiteto de sistemas zelando pela configuração que o aplicativo vai tomando, verificando as definições de cada módulo, conferindo a independência entre eles, e principalmente o quanto cada parte está preparada para futuras mudanças.

O segredo é encarar mudanças como normalidade, não como perturbação. Desenvolver um aplicativo é implementar mudanças. Continuamente.

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